Marcada por clima tenso e com o Teatro do Engenho abarrotado, a audiência pública do Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo) sobre a liberação ou não do projeto imobiliário Boulevard Boyes durou pouco mais de três horas – e não teve qualquer relação com outro processo, o de tombamento estadual, este parado desde janeiro de 2024 conforme a advogada Silvia Machuca. O grupo em favor da construção dos prédios residenciais às margens do Rio Piracicaba martelou a ideia de desenvolvimento e do lado contrário foram elencados prejuízos ambientais e abertura de precedente para mais arranha-céus à beira-rio. O presidente do Condephaat, Carlos Augusto Mattei Faggin, prometeu encontrar um meio-termo para agradar ambos lados.
Mariana de Souza Rolim, vice de Faggin, explicou que a audiência desta terça é uma etapa no Condephaat e seu conteúdo será transcrito em até duas semanas e adicionado ao processo do Boulevard. O trâmite segue para análise de um relator do conselho, que ficará responsável por emitir um novo parecer a ser votado pelos 24 conselheiros. Após esta manifestação do Condephaat, se aprovado, o projeto imobiliário chegará à prefeitura passando por secretarias municipais de Piracicaba.
O presidente do Condephaat, Carlos Augusto Mattei Faggin, avaliou a audiência como muito rica, superando suas expectativas. “Eu sei que nós vamos conseguir encontrar uma forma de atender a todas necessidades de um empreendimento como esse e atender, principalmente, as exigências sociais que Piracicaba tem. A riqueza do Rio Piracicaba é conhecida no Estado todo e disso vocês podem ter certeza.”
CONTRAS
O Boulevard não levou em conta a existência de até 50 espécies raras de animais que transitam pelo Piracicaba, relatou o engenheiro florestal do Núcleo de Apoio à Cultura e Extensão Universitária em Educação e Conservação Ambiental (Nace-Pteca) da Esalq/USP, Girlei Cunha. “Projeto [Boulevard] não fala dos rios, das árvores, da onça da Rua do Porto”, pontuou. Na mesma linha, o representante da Sodemap (Sociedade Para Defesa do Meio Ambiente de Piracicaba), Paulo Figueiredo acusou crime ambiental. “Estamos assistindo a uma camuflagem. É uma ação de quadrilha”, disse, destacando que a área da Boyes é uma APP (Área de Preservação Permanente).
A FAVOR
Edgard Borsoi Viana, sócio da KTV, escritório de arquitetura responsável pelo Boulevard, defendeu ter apresentado um estudo ambiental de 300 páginas. “Se o projeto afetar alguma área, haverá responsabilidade criminal”, disse, informando também que o Ministério Público está analisando o aspecto ambiental. Julio Takano, presidente do mesmo escritório, lembrou Henry Ford, quando propôs carros e a sociedade queria cavalos. Ele também defendeu o projeto no sentido de ser a melhor solução e proporcionar qualidade de vida.
FEIO
O Engenho Central bem como seu teatro estava apinhado de forças de segurança, tanto a Polícia Militar como Guarda Municipal. Apesar dos ânimos à flor da pele ao estilo torcida de jogo de futebol, não houve uma ‘porradaria’ – o que justificaria a presença massiva de PMs e GMs. Mas Erick Gomes, presidente do Simespi (sindicato patronal da indústria em Piracicaba), não deixou a presença do efetivo passar em branco. Ele foi o único a protagonizar um momento de agressão física na audiência pública do Condephaat.
Gomes atacou com empurrões e tapas o fotógrafo Newton Boni Jr. após ser criticado pelo mesmo. O Diário Piracicabano estava na cena, viu tudo, e perguntou sobre a postura beligerante do representante sindical, mas o presidente do Simespi deixou o recinto claramente alterado e levado para fora do teatro pela GM. Erick é a favor dos prédios às margens do Piracicaba e resumiu em sua fala sobre trabalhar para comprar apartamentos de mais de R$ 1 milhão. “Lutem para chegar lá”, disse.
________
CURTE O DIÁRIO?
Contribua com o jornal:
PIX (chave e-mail)
odiariopiracicabano@gmail.com
Na plataforma Apoie-se
(boleto e cartão de crédito):
https://apoia.se/odiariopiracicabano
***
Apoie com R$ 10 ao mês (valor sugerido).
Precisamos de 100 amigos com essa doação mensal.
Jornalismo sem rabo preso não tem publicidade!